Ambiente e Ecologia (1)

Artigo 10, publicado no Correio da Serra, Santo Antonio do Pinhal, SP, edição de Set 2006

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Capítulo Três: falemos agora sobre Ambiente e Ecologia.

Vimos nos artigos anteriores que inúmeras espécies de seres passaram, em algum momento, a habitar a Terra no decorrer de sua história geológica.

Vimos também que as espécies não surgem do nada (embora o acaso exerça aí um papel importante), já que são as espécies existentes que dão, por fim, origem a outras espécies, isto desde que tempo suficiente e alguns outros “ingredientes” estejam à disposição.

A vida começou de forma extremamente simples em nosso planeta e foi ganhando complexidade (e variedade, diversidade) à medida que certos processos se desenvolviam ao longo do tempo.

Como já falamos, todos os seres viventes (e portanto todas as espécies) buscam ocupar algum espaço desde que este lhes seja favorável, ou seja, desde que ali sejam encontradas naturalmente as condições para o seu sustento e manutenção: água, temperatura adequada, nutrientes, condições de reprodução etc.

Isto é natural e nos traz o conceito de suporte.

A única exceção conhecida é a nossa própria espécie, que tornou-se capaz de conscientemente alterar os espaços e ambientes em seu favor (no entanto, como veremos mais adiante, esta “capacidade” está produzindo uma das maiores tragédias da história da vida na Terra, graças à estupidez humana).

A Profª Naná Mininni Medina, mui competente educadora e consultora da ONU, disse em 1985: “o meio ambiente é gerado e construído ao longo do processo histórico de ocupação de um território por uma determinada sociedade, em um espaço de tempo concreto.  Surge como síntese histórica das relações entre a sociedade e a natureza“.

Permito-me acrescentar que:

- se aqui estendermos a compreensão de “processo histórico” para levarmos em conta a história geológica da vida (quase 4 bilhões de anos),

- se também ampliarmos a compreensão de “determinada sociedade” no sentido de abranger um amplo e complexo conjunto de espécies viventes,

- se ainda compreendermos que a Terra é um planeta geologicamente ativo (portanto, vivo) e que todo e qualquer “território” sobre ela não é estático e, sim, está em permanente mutação e

- se, por fim, lembrarmos que o tempo nada tem de concreto,

então o conceito estará bastante claro.

Penso que não é fácil aos iniciantes abarcar em profundidade o conceito de ambiente e isto graças a um paradoxo: ele parece simples, intuitivo, mas é igualmente complexo, requer observação, demanda reflexão e experimentação.

Numa primeira abordagem, podemos realçar três aspectos da realidade aparentemente óbvios, embora alguns sejam bastantes sutis:

- a natureza física, com o significado de espaços disponíveis e sua diversidade em estruturas e condições variáveis ao longo do tempo (campos, montanhas, desertos, geleiras, mares, lagos, rios, subsolo, atmosfera etc;

- a natureza biológica, significando espécies, populações e comunidades de espécies quaisquer, com sua diversidade e sua evolução ao longo do tempo (animais vertebrados, invertebrados, fungos, bactérias, algas, plantas etc);

- as dinâmicas envolvidas, com o significado de processos de interação e de articulação dos relacionamentos entre espécies e comunidades quaisquer (quem se alimenta de quem, quem depende de quem, quem coopera com quem, quem compete com quem, quem é indiferente a quem etc).

O ambiente que herdamos de toda a vida que nos precedeu na Terra é fruto de uma longa e nem sempre calma história.  O equilíbrio ambiental que tornou possível o surgimento do Homo sapiens, nossa espécie, há cerca de 150 mil anos atrás, foi pacientemente elaborado por uma seqüência de eventos físicos e biológicos e também pela maneira como se deram os relacionamentos com isto tudo, sua dinâmica.

Como sempre venho dizendo aqui, grande parte da responsabilidade pela manutenção deste equilíbrio repousa em nossas mãos, hoje, aqui e agora.  Recebemos uma grande herança das gerações humanas que nos precederam, mas sabemos agora também que esse delicado equilíbrio começou a se romper há cerca de 8 mil anos, quando inventamos a agricultura e principiamos a devastar todos os espaços do planeta.

Infelizmente, dada a nossa até aqui incontrolável estupidez, este rompimento se agrava a cada dia e estamos deixando já de discutir que herança pretendemos deixar para as próximas gerações, pois um número crescente de nós (e talvez isto seja uma esperança, apesar do paradoxo absurdo) começa a se perguntar se haverá “próximas gerações” herdeiras.

Mergulhar na compreensão destes fenômenos e destas dinâmicas de interdependências é lançar-se na compreensão do que vem a ser ecologia.

Trataremos disto nos próximos artigos.