Conclusões (2): O Compreender

Artigo 36, publicado no Correio da Serra, Santo Antonio do Pinhal, SP, edição de Mai 2009

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Undécimo Capítulo: avancemos com as conclusões nesta nossa jornada de reflexões.

No artigo anterior tratamos da percepção e da desobstrução de nossos sentidos, da ampliação e da abrangência de nossos pontos de observação, tratamos do Olhar.

Se queremos perceber o que acontece, é preciso estarmos receptivos aos aspectos da realidade e suas manifestações, para que os sinais existentes sejam por nós percebidos e transformados em dados, em informações, em conhecimento e, talvez, em sabedoria (um extenso assunto para outro artigo).

Mentes obstruídas significam sentidos obstruídos, desconexão da realidade, entendimento estorvado, ações desencontradas que passam a ser reflexos, impulsos, reações, mas nunca respostas aos desafios.

Entretanto, no olhar do genial Sigmund Freud (1856-1939, austríaco), médico neurologista, fundador da psicanálise, “nossos complexos são a fonte de nossa debilidade; mas com frequência são também a fonte de nossa força”.

Paulo Freire nos disse: “Conhecer é tarefa de sujeitos, não de objetos.  E é como sujeito, e somente enquanto sujeito, que o homem pode realmente conhecer.

Se estamos receptivos, com a mente aberta, os sentidos em alerta e refletimos a respeito do que observamos, em algum momento se dará aquela experiência reveladora do novo, o dar-se conta, o “cair da ficha”.

Assim, minha segunda conclusão diz respeito ao Compreender.

Sinto-me de acordo com a visão do escritor Jiddu Krishnamurti, (1895-1986, indiano), que nos diz que “se realmente entendemos o problema, a resposta virá dele, porque a resposta não está separada do problema.”

Desta forma, conhecer e compreender andam de mãos dadas, fazem parte do mesmo processo enriquecedor que nos prepara para os desafios da vida.

Vale aqui lembrar a reflexão bem humorada de Mark Twain, (1835-1910, estadunidense) escritor, humorista e romancista:

Quando o único instrumento que você tem é um martelo, todo problema que aparecer você tratará como um prego.

Em nossa língua, a “última flor do Lácio, inculta e bela” (Luís Vaz de Camões, 1525-1580, português e poeta-mor na formação de nosso idioma), “conhecer” significa “aprender, procurar saber, apreender, conscientizar-se, vivenciar”, atitudes e ações que na caminhada nos permitem alcançar o que entendemos por “compreender”.

Compreender, para além de “entendimento”, significa ainda “conter em si”, “abranger”, “estender sua ação

a”.  Como vimos nos artigos Democracia e Utopia (Dez 2008), “a mente que se abre a uma nova idéia jamais volta ao tamanho original” (Albert Einstein); do ponto de vista psicanalítico, “conhecer” significa “co-nascer” (nascer com), nascer junto ao novo entendimento, com uma nova e ampliada mente.

Alguns de nós (oxalá todos o fizessem) costumamos olhar para fora, para os céus, procurando ver e perscrutar o infinito.  Mas há um outro desafio ainda mais urgente (infelizmente enfrentado por um número ainda menor de nós): olhar para dentro, para um outro universo, um outro infinito que somos, cada um de nós.

Conhecer a si mesmo (“conhece-te a ti mesmo”, Sócrates) é mergulhar nesse universo infinito e único que cada um de nós é, o que permitirá revelá-lo, reconhecê-lo, participar de si (sendo sujeito e não espectador) encorajando sua evolução.

Estabelecer relações saudáveis (“amai-vos uns aos outros como vos amei”, Jesus de Nazaré), é fazer com que cada um destes universos encontre parceiros na caminhada da existência para que cada um e todos beneficiem-se mutuamente, para que novas riquezas e novos universos sejam criados.  Malgrado nossas diferenças, poderemos sempre encontrar a possibilidade de percorrermos juntos ao menos um trecho da jornada.

São estas as atitudes e gestos que constituem as ferramentas básicas e essenciais para que consigamos a quebra do ciclo vicioso em que estamos todos, indivíduos e sociedade, presos até hoje, como vimos nos artigos Desenvolvimento e Sustentabilidade (Jul 2008).  É necessário quebrá-lo em dois pontos, no universo interior e no universo exterior, para que consigamos superá-lo.

É assim que me vejo e é assim que me sinto, como a interface viva entre estes dois universos, interior e exterior, pensando, refletindo e criando como se fosse eterno; e agindo como se este fosse meu último dia.

O escritor André Gide nos diz que “toda a teoria só é boa na condição de que, utilizando-a, se vá mais além.”

Em seu livro Carta a uma Nação Cristã, o filósofo e escritor Sam Harris (1967, estadunidense), parafraseando Einstein, diz que “o cerne da ciência não são as experiências controladas, nem os modelos matemáticos; é a honestidade intelectual.”

Mais abrangente, a reflexão original feita por Einstein nos diz:

A maioria das pessoas pensa que é o intelecto que faz um grande cientista.  Estão equivocadas: é o caráter.”

Um dos maiores valores do conhecimento é o fato dele nos tornar próximos da ação correta, para que percebamos os avisos de incêndio e para que sejamos iluminados não pelo fogo de nossas inconsequências, mas pelo brilho da verdade.