Conclusões (3): O Agir

Artigo 37, publicado no Correio da Serra, Santo Antonio do Pinhal, SP, edição de Jun 2009

© 2005-2018 Fabio Ortiz Jr

 

Undécimo Capítulo: aprofundemos nossas conclusões nesta jornada.

Nos artigos anteriores tratamos da importância do Olhar e do Compreender para melhor percepção da realidade e sua interpretação, em atendimento às nossas necessidades e às daqueles com quem, de alguma forma, nos relacionamos (a esta altura, todos).

Os jovens que buscam seu primeiro trabalho deparam-se com um perverso paradoxo: como são iniciantes, não possuem “experiência”; porém, invariavelmente, um dos primeiros quesitos a que têm que responder diz respeito à sua “experiência anterior”, senão, nada feito (cabe aqui lembrar que um dos ardis da economia capitalista é a manutenção sistemática de um enorme contingente de desempregados ávidos por uma colocação, enquanto pressiona os empregados por maiores produção e qualificação junto a menores salários).

A mais sábia interpretação que encontrei do que venha a ser experiência foi revelada, é claro, por uma reflexão filosófica: experiência não é o que você fez; é o que você faz com o que fez.  A frase exata de Aldous Huxley, cientista e escritor, diz: "Experiência não é o que acontece com você, mas sim o que você fez com o que lhe aconteceu."

Neste sentido, é sinônimo de conhecimento, o conhecimento que leva à ação adequada, uma resposta e não uma reação ao desafio.  Como já vimos, “mentes obstruídas significam sentidos obstruídos, desconexão da realidade, entendimento estorvado, ações desencontradas que passam a ser reflexos, impulsos, reações, mas nunca respostas aos desafios”.

Assim, minha terceira conclusão diz respeito ao Agir.

É necessário mudar o olhar, o compreender e a ação: é necessário um saudável desenvolver de conceitos e conhecimentos, de valores e atitudes, de costumes e práticas.

Tradição se faz (não cai dos céus, podemos fazer uma nova bem rapidamente) e é necessário movermos os traseiros dos cômodos assentos para abandonarmos a atitude do “santo dai-me” (dai-me de comer, dai-me de beber, dai-me de pensar), a humilhante postura do pires na mão, fruto da depressão imobilizadora (o nosso mal profundo dos séculos últimos).

Há que superar o problema do medo inicial (e inercial): a pequena dor que incomoda, mas a que, por falta de coragem, nos acostumamos, pois a dor de seu enfrentamento e superação nos assusta (e avassala), tornando-nos, assim lenta e cotidianamente, escravos da inação.

Vale aqui relembrar Mahatma Gandhi a nos dizer que "a alegria está na luta, no esforço, no sofrimento que a luta supõe e não na vitória."

Atento e combatendo as iniquidades de nossa era, o pastor e ativista político Martin Luther King Jr (1929-1968, estadunidense) observava que "o que mais preocupa não é o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética.   O que mais preocupa é o silêncio dos bons."

A origem desta mensagem reside numa reflexão anterior de Einstein, ainda ele: “o mundo é um lugar perigoso, não pelos que fazem o mal, mas pelos que observam e não fazem nada a respeito.”

A grande crise que nos assola não é apenas uma mera crise financeira, como quer hipocritamente nos fazer crer toda a mídia comprometida com os valores

do capital, e tampouco apenas mais uma de suas previsíveis crises cíclicas: é a conjunção potencializada de uma série de conflitos inerentes a um modelo civilizatório esgotado, um modelo nefasto que traz em si inúmeros problemas e que, ao pretensamente resolvê-los, cria inúmeros novos conflitos.

Bertrand Russel (1872-1970, galês), matemático, filósofo e pacifista ativo, fez uma irônica reflexão a respeito: “A humanidade transformou-se em uma grande família, tanto que não podemos garantir a nossa própria prosperidade se não garantirmos a prosperidade de todos.  Se você quer ser feliz, precisa resignar-se a ver os outros também felizes.”

Menos mordaz, Hannah Arendt dizia que “a Terra é a própria quintessência da condição humana e, ao que sabemos, sua natureza pode ser singular no universo, a única capaz de oferecer aos seres humanos um habitat no qual podem mover-se e respirar sem esforço nem artifício.  O mundo – artifício humano – separa a existência do homem de todo ambiente meramente animal; mas a vida, em si, permanece fora desse mundo artificial e, através da vida, o homem permanece ligado a todos os outros organismos vivos.”

Há uma carta emblemática atribuída, em tese, ao Chefe Sealth (Ts'ial-la-kum), (1786-1866), líder das tribos Suquamish e Duwamish no que hoje é o estado americano de Washington.  É sua resposta à oferta de compra de território que lhe fez o presidente Pierce em 1854.  Reproduzo aqui apenas alguns trechos (já que, por sua profundidade, será objeto de outro artigo):

Como você pode comprar ou vender o céu, o calor da terra?  A idéia é estranha para nós.  Cada parte da Terra é sagrada para o meu povo.  Cada pinha brilhante, cada praia de areia, cada névoa nas florestas escuras, cada inseto transparente, zumbindo, é sagrado na memória e na experiência de meu povo.  Somos parte da Terra e ela é parte de nós.

Nós sabemos que o homem branco não entende nossas maneiras.  Para ele um pedaço de terra é igual ao outro, pois ele é um estranho que chega à noite e tira da terra tudo o que precisa.  A Terra não é seu irmão, mas seu inimigo e quando ele o vence, segue em frente.  Ele deixa para trás os túmulos de seus pais, e não se importa.  Ele seqüestra a Terra de seus filhos, e não se importa.

Seu apetite devorará a Terra e deixará atrás de si apenas um deserto.  O homem branco parece não perceber o ar que respira.

Pois tudo o que acontece aos animais, logo acontece ao homem.  Todas as coisas estão ligadas.

Isto nós sabemos: a Terra não pertence ao homem, o homem pertence à Terra.  Tudo o que acontece à Terra, acontece aos filhos da Terra.

O homem não teceu a teia da vida – ele é apenas um fio dela.  O que quer que ele faça à teia, ele faz a si mesmo.”

Vale lembrar, afinal, Bertold Brecht (1898-1956, alemão), poeta e dramaturgo, que dedicou sua existência a combater o totalitarismo (mormente o fascismo e o nazismo):

Há homens que lutam um dia e são bons; há outros que lutam um ano e são melhores; há aqueles que lutam muitos anos e são muito bons.  Mas há os que lutam toda a vida; estes são os imprescindíveis.”