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Democracia e Utopia (2) Artigo 32, publicado no Correio da Serra, Santo Antonio do Pinhal, SP, edição de Jan 2009 © 2005-2018 Fabio Ortiz Jr |
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Capítulo Dez: aprofundemos nossa reflexão sobre a relação entre Democracia e Utopia. Nos artigos anteriores tratamos do estado do mundo humano como resultante dos anseios (sonhos felizes ou pesadelos) de todos e abordamos a crise atual, algumas formas de governo, a democracia, o desejo humano básico e a responsabilidade de cada um e de todos. O luminoso Albert Einstein (1879-1955, alemão), físico, matemático, pensador, violinista amador, um dos maiores gênios que a humanidade já revelou, continuará ainda por muito tempo campeando a jornada humana. Disse ele: “Em tempos de crise só a imaginação é mais importante que o conhecimento.“ Einstein não se furtou a suas responsabilidades de cidadão e cientista, expondo sua visão em inúmeras ocasiões. Poucos sabem que ele foi expulso de sua escola, quando estudante, reprovado em Física por conta de um professor e de um método extremamente autoritários. Pretendendo aferir o aprendizado de seus alunos a respeito de um tema apresentado, o professor deu-lhes um problema a resolver. Enquanto os outros alunos escreviam e calculavam, Einstein, folha em branco à sua frente, refletia absorto em pensamentos. Pouco antes de terminar o tempo dado, passou a escrever e afinal entregou sua prova. Corrigidas, na aula seguinte elas foram mostradas aos alunos; Einstein recebera zero. O testemunho é de um colega seu, mais tarde também um reconhecido cientista: Einstein contestou sua nota, afirmando que sua resposta estava correta e merecia nota máxima. O professor reafirmou a reprovação, dizendo que ele não respondera à questão, sua resposta estava errada. Einstein então demonstrou que havia respondido à questão de dez maneiras diferentes entre si, todas elas chegando ao mesmo e correto resultado, como o do professor. A discussão terminou com a reprovação final e expulsão de Einstein da escola. Mostrando sua total compreensão do assunto (a história toda não cabe aqui), ele havia resolvido o problema de dez maneiras diferentes, exceto da forma que o tal professor esperava que os alunos o fizessem (na verdade, mera reprodução do que ele os havia treinado a fazerem). Einstein mais tarde explicou que, embora soubesse o que o professor queria, recusara-se a fazê-lo porque não julgava aquilo prova de aprendizado, mas apenas de mera repetição e não verdadeira educação. Muitos anos depois, já famoso e tendo recebido por duas vezes o Prêmio Nobel de Física, não furtou-se também a uma provocativa e humorada reflexão quanto aos rumos da humanidade: “Só há duas coisas infinitas no mundo: o universo e a estupidez humana. Mas não estou bem certo quanto à primeira.” Suas reflexões espalharam-se sobre inúmeros aspectos da vida humana como a ciência, a música, a filosofia, a educação: “A mente que se abre a uma nova idéia jamais volta a seu tamanho original.” "Uma pessoa inteligente resolve um problema, um sábio o previne." E também pela política: |
"... sob certas condições, os capitalistas privados inevitavelmente controlam, direta ou indiretamente, as principais fontes de informação (imprensa, [tv] rádio, educação). É então extremamente difícil, e na maior parte dos casos na verdade quase impossível, para o cidadão individual chegar a conclusões objetivas." “O meu ideal político é a democracia, para que cada homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado.” A respeito dos desafios da imaginação e da ousadia da transformação, George Bernard Shaw, escritor irlandês já aqui citado, nos disse: “Algumas pessoas vêem as coisas como elas são e se perguntam: ‘Por quê?’ Eu sonho com coisas que nunca existiram e me pergunto: por que não?” Fernando Pessoa (1888-1935, português), poeta e escritor, talvez a estrela mais brilhante da língua portuguesa, refletia: “Alguns têm na vida um grande sonho e faltam a esse sonho. Outros não têm na vida nenhum sonho; e faltam a esse também.” Já o escritor uruguaio Eduardo Galeano nos traz à reflexão o seguinte relato: “A história passada está de pernas para cima porque a realidade anda de cabeça para baixo. E não apenas no sul da América: também no Norte. Quem, nos Estados Unidos, não conhece Theodore Roosevelt? Este herói nacional predicou a guerra e a praticou contra os fracos: a guerra, proclamou Roosevelt, purifica a alma e melhora a raça. Portanto, recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Em compensação, quem conhece, nos Estados Unidos, Charles Drew? Não é que a história o tenha conhecido, simplesmente jamais o conheceu. No entanto, este cientista salvou muitos milhões de vidas humanas desde que suas pesquisas tornaram possíveis a conservação e transfusão de plasma [sanguíneo]. Drew era diretor da Cruz Vermelha nos Estados Unidos. Em 1942, a Cruz Vermelha proibiu a transfusão de sangue de negros. Então Drew se demitiu. Drew era negro.“ Daqui a poucos dias de quando escrevo, 67 anos depois, Barack Obama, negro e presidente eleito, assumirá a presidência dos Estados Unidos da América. No Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, nascido nas parcelas mais humildes da população, a 2 anos do término de seu segundo mandato governa o país em meio a grave crise mundial reconhecido, aplaudido e sustentado por 80% dos brasileiros. Não é pouca coisa; ajudêmo-los, com ações e com críticas que construam. Continuaremos na próxima. * * * Em tempo: Einstein não recebeu o Nobel de Física por duas vezes, embora o merecesse (o único físico a conseguí-lo foi John Bardeen, estadunidense). Einstein recebeu o Nobel de 1921 (só anunciado no ano seguinte) por conta de sua explicação para o efeito fotoelétrico. O ano de 1905 é conhecido como o seu "Annus Mirabilis", ano miraculoso, já que aí publicou quatro dos mais importantes artigos científicos do século 20 sobre o efeito fotoelétrico, o movimento browniano, a relatividade restrita e o conceito de massa inercial (resumido na famosa equação E=mc2). |
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