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Nova Jornada: Uma Espécie de Vida Efêmera Artigo 45, publicado no Correio da Serra, Santo Antonio do Pinhal, SP, edição de Fev 2010 © 2005-2018 Fabio Ortiz Jr |
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Como vimos, no artigo passado completamos nossa primeira jornada. Iniciemos esta segunda com uma reflexão de Isaac Asimov (1920-1992, russo), bioquímico, cientista e escritor consagrado de ficção científica, além de ter sido um grande divulgador de ciências, com mais de duzentas obras publicadas: “O aspecto mais triste da vida atual é que a ciência ganha em conhecimento mais rapidamente do que a sociedade em sabedoria.” Dizia ele que, malgrado todos os avanços, somos uma espécie de vida efêmera, não vivemos o bastante para nos tornarmos sábios; quando vivemos e refletimos o suficiente para começarmos a realmente compreendê-la, nossa vida chega ao fim (e isto para aqueles que tiveram a fortuna de ao menos se aperceberem na boa jornada). É oportuno aqui lembrarmo-nos de Bertold Brecht: “A ambição da ciência não é abrir a porta do saber infinito, mas colocar um limite ao erro infinito.” Digo isto ao refletir sobre uma série de temas que viremos a abordar nesta nova seqüência, um aprofundamento teórico e prático dos problemas que nos afligem como indivíduos, mas encadeados enquanto comunidade, sociedade, nação, país e também enquanto espécie imersa numa complexa teia de espécies inúmeras e dispersas e, contudo, ao mesmo tempo interdependentes no espaço e no tempo. Digo isto ao considerar ainda o amplo sentido de ciência como consciência, conforme significado no artigo Conclusões: o Imaginar, de Agosto de 2009. O novelo dos fatos imbricados e emaranhados da realidade (ou então realidades) pode ser desfeito e seguido por qualquer uma de suas pontas aparentes, bastando para isto, como nos dizia Camões (v. artigo Conclusões: o Compreender, de Maio de 2009), “engenho e arte”, ou seja, mente aberta, olhos atentos, disposição à observação, paciência, coragem, inteligência (no sentido de ser capaz de ler nas entrelinhas dos fatos). Vivemos uma enorme fragilidade sob o manto da opulência, fato este que se tornará um tanto mais evidente à medida que aqui tratarmos do processo do conhecimento e do que vem a ser o método científico, ao lançarmos um pouco de luz sobre o mito da neutralidade científica, ao abordarmos algumas verdades e mentiras sobre o aquecimento global, refletirmos sobre o princípio da gota no lago, sobre gafanhotos e jardineiros, sobre os tipos de governo, ao entendermos que nação, país, estado e governo não |
são sinônimos, ao analisarmos a distribuição da riqueza produzida por todos etc, tudo isto sob a óptica da educação ambiental e do desenvolvimento sustentável como proposto em nossa primeira jornada, ou seja, segundo uma visão ambientalista. Lembremos, porém, com o devido cuidado, o que nos dizia o luminar Jules Henri Poincaré (1854-1912, francês), matemático, físico e filósofo: “Uma acumulação de fatos não faz uma ciência, tal como um conjunto de pedras não faz uma casa.” O tema que trataremos inicialmente já é do conhecimento de muitos, embora muita confusão ainda permaneça a seu respeito, seja por falta de informações adequadas, seja pela má-fé de alguns: falo do programa Renda Básica de Cidadania, já em fase de implementação em Santo Antonio do Pinhal. Os dados factuais são amplamente conhecidos: há uma lei federal, a Lei nº 10.835, de autoria do senador Eduardo Matarazzo Suplicy, aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada em 8 de Janeiro de 2004 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva; a lei institui, a todos os brasileiros residentes no país e aos estrangeiros aqui residentes há pelo menos 5 anos, a garantia do recebimento de um benefício monetário visando prover suas necessidades básicas; não há condicionantes outras para o recebimento; o programa está concebido para uma implantação gradual em substituição ao programa Bolsa Família. Também é de conhecimento geral que o programa encontrou terreno fértil em Santo Antonio do Pinhal, SP, para servir a uma experiência piloto que, sendo bem sucedida, espera-se será espelhada por inúmeros outros municípios. Estes dados, agora informações, poderiam bastar a olhos desatentos. Contudo, o programa e suas implicações são de extrema complexidade e importância; logo, há mais, muito mais a ser desvendado. Refletindo sobre o novelo a desenrolar, lembro-me de um pensamento de Leonardo da Vinci (1452-1519, italiano) genial pintor, escultor, arquiteto, engenheiro, matemático, fisiologista, químico, botânico, cartógrafo, físico, mecânico, inventor, anatomista, geólogo, escritor, poeta e músico: “Os que se encantam com a prática sem a ciência são como os timoneiros que entram no navio sem timão nem bússola, nunca tendo certeza do seu destino.” |
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