O Rei Está Nu: Fragilidades e Desafios

Artigo 60, publicado no Correio da Serra, Santo Antonio do Pinhal, SP, edição de Mai 2011

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É difícil demonstrar como, diante dos desafios destes vertiginosos tempos, estamos todos nus: isto significa expor nossas fragilidades; e, por uma estranha razão, temos enorme dificuldade em com elas nos defrontarmos, sejam nossas fragilidades individuais, sociais ou mesmo como espécie.

A metáfora do rei nu é perfeita para evidenciar a distinção entre os caminhos que podemos escolher: a vaidade e a presunção a nos guiarem rumo à iniquidade ou então o olhar puro, isento de corrupção, a iluminar os meandros da vida e nossos passos de eterno infante.  O olhar de um verdadeiro cientista, pesquisador, pensador, sem ingenuidades, é semelhante ao olhar de uma criança, sempre aberta à realidade e à sua imaginação criativa.

Convém aqui recapitularmos algumas reflexões, como a do artigo Educação e Ambientalismo (Nov 2007): “como já vimos, o nosso sistema de crenças dirige a maneira como vemos a nós próprios, os outros, nossas relações com eles e com o entorno, seja físico ou social.  Quando estabelecemos estas relações, criamos também um modo de viver (modus vivendi), uma “filosofia de vida”, uma forma de nos apropriarmos dos recursos de que necessitamos e daquilo que nos cerca, ou seja, determinarmos aquilo (as relações) a que chamamos de economia e de política, estejamos ou não conscientes disto.  Neste sentido, o sistema de crenças e a ação consequente, as relações estabelecidas, a filosofia de vida, a política, a economia, a educação são aspectos do mesmo problema: nós.

No artigo Democracia e Utopia (Dez 2008) apontamos que “são as respostas e as ações (conscientes ou não, saudáveis ou doentias) decorrentes daquelas perguntas essenciais acima (quem somos, de onde viemos, para onde vamos) que fazem do mundo humano aquilo que ele é.  A maneira como vemos a nós mesmos e aos outros, a maneira como estabelecemos nossas relações e nos apropriamos dos espaços vitais, podem ser compreendidas pelos aspectos do conhecimento (pontos de vista sobre a realidade) a que chamamos de filosofia, psicologia, geologia, ecologia, economia, política.

Já nos artigos Educação e Ambientalismo (Jan 2008), Sustentabilidade e Cidadania (Ago/Set 2008) e Uma Síntese Necessária (Set 2009/Jan 2010) afirmei que “sem curiosidade e esforço não há conhecimento, sem conhecimento não há critério, sem critério não há escolha, sem escolha não há liberdade, não há cidadania; o motor de tudo, a coragem.

Acrescentei ainda que “ao longo deste século XXI o enfrentamento destas mudanças demandará empregarmos todo o nosso conhecimento, sim, e mais, o atual e o futuro; demandará tecnologia, sim, mas demandará (e provocará) sobretudo mudanças na maneira como vemos a nós mesmos, na maneira como nos apropriamos dos espaços, como desenvolvemos nossas relações pessoais e sociais, nosso conceito de propriedade e nosso modo de produção.

Assim, para melhor perceber e compreender a dimensão e a complexidade dos desafios a que me referi, será necessário refletir nos próximos artigos

sobre alguns aspectos de nossa realidade humana e de como nos apercebemos da realidade física em que estamos imersos, como:

- o processo do conhecimento: de sinais a sabedoria;

- o método científico;

- o mito da neutralidade científica;

- verdades e mentiras sobre o aquecimento global;

- sobre gafanhotos e jardineiros;

- a fragilidade sob o manto da opulência;

- a apropriação do público pelo privado;

- a distribuição da riqueza produzida;

- o princípio da gota no lago;

- os tipos de governo: nação, país, estado e governo não são sinônimos;

- sobre o papel do predador e da catástrofe;

- a mudança no Código Florestal;

- e, mais localmente, o turismo em Santo Antonio do Pinhal: o desejável, o real, o possível.

Refletir sobre a nossa crise civilizatória, local ou global, significa, sim, abordar temas como tempo, conhecimento, método científico, ecologia, educação, economia, cidadania, política, ambientalismo etc, evidenciando como, diante destes desafios, estamos todos nus:

- ocupar de maneira sustentável os territórios necessários à nossa sobrevivência;

- prover fontes de energia sustentável para o desenvolvimento;

- prover moradia digna para todos;

- educar a todos, principalmente as novas gerações;

- desenvolver ocupação digna para todos;

- erradicar a miséria;

- alimentar bilhões de pessoas;

- desarmar milhares de armas atômicas e nucleares e bani-las;

- superar o capitalismo.

Conter a explosão demográfica, o desmatamento, a extinção de milhares de espécies e as crônicas crises econômicas e suas guerras será mera decorrência desta heróica superação.

Defrontarmo-nos corajosamente com nossas fragilidades, longe de nos enfraquecer, pode nos proporcionar o caminho para o encontro de nossas reais forças e para a libertação.