Digo que estamos todos nus diante dos desafios destes tempos a começar pelo
fato de que mal estamos nos dando conta de sua natureza e dimensão. Talvez
nossa principal fragilidade esteja no ato de conhecer. Como sabemos?
Levantar as
perguntas
relevantes é
sempre
mais
complexo e
importante do
que as respostas; tratei disto em várias
palestras que dei em congressos e seminários de
tecnologia da informação (TI). De imediato, podemos indagar:
- o
que é conhecimento?
-
como se gera conhecimento?
-
como se codifica conhecimento?
-
como se organiza conhecimento?
-
como se “transfere”
conhecimento?
Depois, pensando nas relações sociais e nas questões práticas do cotidiano,
podemos refletir:
- está surgindo uma
economia do conhecimento?
-
informação é
poder? E conhecimento então?
- há
funções de trabalho e qualificações na
área do conhecimento?
- o
que é
gestão do conhecimento?
- há
tecnologias
para
gestão do conhecimento?
- o
que é
um
projeto
para
gestão do conhecimento?
-
há
exemplos de
gestão na
prática?
Na
antiguidade ninguém tratou a
questão do
conhecimento
mais
profunda e
intensamente do
que os filósofos (v. artigos Ecologia e Educação,
Mar/Abr 2007, e Conclusões: O
Compreender, Mai 2009).
Sócrates o fez
com
seus
alunos,
em
seus
discursos
jamais registrados
pela
escrita. Platão
em
seus
diálogos,
como
por
exemplo Fedra, há
cerca de 2.400
anos
já tratava
profundamente do
conhecimento.
Aristóteles e
Descartes
também avançaram neste campo, sucedidos
por uma
legião de
pensadores
como
Pascal, Rousseau,
Chefe Seattle, Freud, Russel, lista
tão
extensa
que o
pequeno
espaço
aqui
nos obriga à
injustiça de
não
citar a
todos.
Todos
nós
certamente concordamos
com a
idéia de
que o
conhecimento é
importante
para
nós,
para
nossa
vida,
para nossas
atividades,
para
nossa sobrevivência, para as
organizações e os
empreendimentos,
quer
coletivos,
quer
pessoais.
Já na
apresentação de
seu livro Conhecimento Empresarial,
Thomas Davenport e Laurence Prusak
vão ao
ponto: “entender o
conhecimento é
fundamental
para o
sucesso das
organizações”.
Antes de enveredarmos
por
este
caminho, façamos uma viagem
mais abrangente,
que melhor
nos preparará
para observarmos a
paisagem na
jornada. Façamos uma
grande
viagem olhando
para
fora e
para
dentro.
Vamos
examinar o
que é
um sinal.
O
Universo está
repleto, inundado de
sinais. Há
quanto
tempo?
Bem, há uma “quantidade” de
tempo
que a
maioria de
nós tem
dificuldade
em
aquilatar,
pois avaliações desta
ordem de
grandeza
não fazem |
parte de
nosso
cotidiano. É
preciso
um
bocado de
treino
para
que
nos acostumemos a
estimativas
tão
incomuns
como
centenas,
milhares,
milhões
ou
bilhões de anos (v. A Percepção do Tempo,
Mar/Abr 2006).
O
fato é
que
nosso
planeta é bombardeado
ininterruptamente
por
sinais dos
mais variados
tipos e
intensidades,
visíveis
ou
invisíveis aos
nossos
sentidos. Nós,
cada
um de
nós, somos
expostos
cotidiana e
constantemente a
sinais, queiramos
ou
não, sejamos
ou
não
capazes de
nos
apercebermos deles.
Na
forma de
luz,
som,
calor,
aromas
ou
gostos, os
sinais estão continuamente
disponíveis. Podemos percebê-los
ou não (v. Espaço e Ambiente, Jul/Ago
2006);
mas
eles estão
ali e
aqui,
em
todo
lugar,
independentes de
nossa
percepção,
independentes
mesmo de
nossa
existência.
Um
sinal
em
si
apenas reflete a
existência de alguma coisa (se é
que podemos
dizer apenas)!
Um
sinal é o
testemunho de
que
algo existe,
ou existiu,
como
fonte
emissora: por
exemplo, as
luzes
que
nos chegam das
estrelas, o
calor
que
nos aquece vindo de
nosso
Sol,
um
registro
fóssil, o
som da
voz de uma
pessoa
querida, o
perfume de uma bela flor, o
sabor de um gnocchi.
O
conceito de
sinal é
exaustivamente
tratado
pela
Teoria da
Informação,
ciência fundada
por Claude Shannon. Sem os
rigores desta
Teoria, podemos
dizer
que,
em
resumo,
um
sinal é o representante de uma
fonte
emissora e independe de
nossa
percepção,
ou seja, independe de
um
receptor.
Se
um
sinal emitido
encontra
em
seu
caminho
um
receptor e
este o percebe,
bem,
então eis
aí o
que podemos chamar de
dado.
Em
outras palavras, podemos
dizer
que
um
dado
não tem
existência
independente,
pois depende
não
só de
um
emissor
mas
também, e
agora
principalmente, de
um
receptor. O
sinal
passa a
dado na
presença de
um
receptor
atento.
Dados
nada dizem
sobre
si
mesmos,
sua
própria
relevância
ou desimportância.
Como nos lembra Davenport, as
organizações modernas
geralmente armazenam
dados
em
algum
tipo de
sistema
tecnológico,
por
exemplo,
dados
sobre
transações de
compra
ou
venda.
Quantitativamente, as
empresas costumam
avaliar a
gestão de
dados
em
termos de
custo,
velocidade e
capacidade. Qualitativamente, preocupam-se
com
indicadores
como
prontidão,
relevância e
clareza. Porém,
esses
dados
em
si
nada dizem
sobre se a
organização é
bem
ou
mal administrada, se prospera
ou
fracassa.
Às
vezes, as
organizações (as pessoas) acumulam
muitos
dados e criam a
ilusão de
exatidão
científica, o
que é
falso
em
dois
aspectos: em
primeiro
lugar,
dados
em
demasia podem
dificultar
ou
mesmo
impedir a
identificação e
extração de
significado de
dados
que
realmente importam; em
segundo, é
fundamental
compreender
que
dados
não têm
significado
inerente.
Dados descrevem
apenas
parte dos
acontecimentos,
não fornecem
interpretação,
nem
julgamento,
nem
qualquer
base
sustentável
para a
tomada de
decisão e
ação.
Embora
dados
nada informem
sobre
si
mesmos,
eles
são
importantes
pelo
fato de serem a
matéria-prima
para a
criação de informação, o que
veremos a seguir. |