Compreendido o conceito de que um
sinal representa uma
fonte
emissora e independe de
um receptor, evoluímos para o conceito de que
se
um
sinal encontra
em
seu
caminho
um receptor, e
este o percebe, surge o
que chamamos de
dado.
Dizemos que um
sinal
passa a constituir um dado na
presença de
um
receptor
atento.
Claude Elwood Shannon (1916-2001,
estadunidense), matemático,
engenheiro e monociclista
amador, fundou, a
partir de
um
artigo publicado
em 1948 (A Teoria Matemática da Comunicação),
a
Teoria da
Informação.
Para
ele, a
informação está
presente
sempre
que
um
sinal é transmitido de
um
lugar
para
outro,
não importa
que
tipo de
sinal seja. Disto permito-me discordar um
tanto: não necessariamente está; há apenas a possibilidade de
estar.
Vejamos
um
exemplo.
Em Janeiro de 1997,
eu passava
férias
com
minha então esposa
em uma
praia ao
norte de
Salvador. Os
anfitriões eram
dois
casais de
amigos recentes e naquela
manhã fomos a uma
praia
chamada Interlagos, se
não
me
engano.
Dia
claro,
praia
deserta e
Sol fortíssimo, procuramos
um
abrigo
para as esposas na
areia escaldante e fomos os
homens
jogar
futebol,
coisa de
doido naquela
quentura. Quinze
minutos bastaram e os
três então se lançaram à
água. O
mar batia
um
pouco, as
ondas
não eram fracas e
logo
um disse
que ia
fazer
companhia às
mulheres. Continuamos os
dois
ali na
beirada,
água
pela
cintura, numa
pequena
luta
com as
ondas. Alguns
minutos depois,
meu
amigo comentou alguma
coisa
sobre
elas estarem começando a
bater
forte e
eu respondi algo sobre
estar precisando daquilo, uma
espécie de vigorosa massagem. Com a água
pouco
acima da
cintura, começamos a
subir e
descer
com as
ondas, o
que
sempre gostei de
fazer. Uma, duas e na
terceira
já
não havia
chão
sob
meus
pés. Olhei
para
trás e vi
meu
amigo lutando
furiosamente
para
alcançar a
praia, o
que conseguiu
com
muito
esforço. Tentei
voltar
com tranquilidade,
mas
não avançava
um
centímetro
sequer; acelerei,
mas
não adiantou. O
pior
era o
fato de as
ondas
quase
não deixarem
tempo
para respirar: quebravam sobre mim, uma
pancada
sobre a outra, e fui ficando
cansado, num
óbvio déficit de
oxigênio.
Quando vi
que
minha
situação
era
grave, parei,
com
aquele
início de
pânico tentando
me
tomar. Olhei
para a
direção
em
que imaginava
estar a
praia e vi
meu
amigo
ali na
beirada,
ofegante e
aflito
comigo, pequeno ao longe, gritando
algo a uma
distância
que
já
me parecia
imensa. Fiz
sinais
para
ele balançando o
braço
sobre a
cabeça, dedo indicador apontado para cima, (uma
indicação de negativa),
enquanto gritava “Não
vai
dar!” Fiz
isto
por duas
ou
três
vezes,
enquanto o
via
olhar ao
redor, confuso. O
pouco de
serenidade
racional
que
me restava pareceu sublimar-se
sob
aquele
Sol
imenso e fiz
então algo
inesperado, mas
que
simplesmente brotou
como o
que
agora sei
ser uma
expressão do melhor de
mim
mesmo:
em
vez de
lutar
em
desespero
para
voltar, virei-me
para o
mar
aberto
por
alguns segundos e olhei ao
longe
antes de
dizer “Meu
Deus,
me ajude...”. E movido
apenas
pelo
desejo de
voltar,
vazio de
pensamentos, parei de
lutar e deixei-me levar ao mar largo, retornando a nadar,
se é
que se pode
chamar de
natação o
fato de
ser jogado
para
baixo e
para os
lados, a
rolar, tendo de
vez
em
quando o
raro e
improvável
privilégio de
poder
respirar
por
um
ou
dois
segundos.
Não sei
quanto
tempo
isto durou, pois,
como
já disse, há
contextos
onde
nossa
capacidade de avaliação é inadequada. O
fato é que,
em uma das
vezes
em
que emergi, vi
dois
rapazes magrinhos, calções
vermelhos e
camisetas brancas, juntando-se
em
correria ao
meu
amigo. Neste
exato
momento senti alguma
coisa
sob
meus
pés, parecia e
era a
ponta de uma
pedra
ou
recife. O
que consegui
fazer a
seguir
também
me parece
improvável
até
hoje:
meus
pés
não se apoiaram,
eles agarraram aquela
bendita
rocha.
Não sei
como
isto foi possível,
meu
corpo
quase
todo
submerso,
apenas
nariz e
boca
para
fora
entre as ondas; mas foi o
suficiente
para
que respirasse
um
pouco
em
minha
exaustão.
Eu estava
perto! |
O restante foi uma
heróica
operação
em
que os
dois
rapazes, entrados na
água e munidos
apenas de uma
velha
bóia
marítima, uma
precária
corda de
apenas 4
ou 5
metros e
muita
coragem e
determinação, conseguiram
lançar
minha salvação a uma
distância de uns
oito
ou
dez
metros,
que cobri
também
sem dar-me
conta dela (devo-lhes a
vida e
meu
eterno agradecimento,
fato
que
mais
tarde registrei
nos
diários da
Marinha local: eles eram salva-vidas. Também
os presenteei
com o
suficiente para
que comprassem
mais
cordas, uma
máscara e pés-de-pato).
Meia
hora
depois de
ter
chegado à
praia
eu
ainda
tinha
dificuldades
para
respirar e, deitado na areia,
não
tinha
forças.
Meu
amigo tentava
me
confortar e explicava
sua
aflição: “Foi
difícil!
Eu
quase
não consigo!
Depois fiquei
te procurando,
você sumia,
eu ficava desesperado, procurava
um
pau, alguma
coisa prá
te
jogar,
aí
você aparecia, sumia de
novo, acho
que uns 20
minutos... Uma
hora comecei a
gritar:
você
precisa de
ajuda?!
Precisa de
ajuda?!!
Aí vi
você
fazer
assim (repetiu
meu
gesto) e achei
que
você estava
bem...”. Bem, hoje
penso
que foi
bom
meu esgotamento
ter
me impedido de
falar por duas
horas...
Recapitulemos:
um
sinal (meu gesto; o grito foi abafado
pelas ondas) foi
enviado numa direção.
Ele passou
por
receptores
desatentos: as três mulheres e o
terceiro homem
sequer perceberam uma
fração dos
acontecimentos,
mesmo diante deles. O sinal chegou a
um
outro receptor,
que o captou, transformando-o
em
dado. No
entanto,
este receptor, no que seria o passo seguinte,
mesmo
diante desta
circunstância dramática, interpretou-o de
maneira
oposta, desperdiçando a
chance de transformá-lo
em
informação
útil.
Não há
certeza de
que
este mesmo sinal tenha
chegado aos
outros
dois
receptores, os
salva-vidas; entretanto,
qualquer
que tenha sido o
sinal recebido
por
eles,
em infinitésimos de
segundo
ele passou
para
dado e
então
para
informação
útil
para uma
tomada de
decisão e
ação imediatas. Neste
caso e neste
contexto, podemos
pensar
em
informação
como
dados
que fizeram a
diferença.
Em
seu livro, Davenport descreve
informação
como
mensagem, seja documento, comunicação,
audível
ou
visível, tendo
como
tal
um
emitente e
um receptor: informar é
dar
forma, visa
modelar a
pessoa
que a recebe no
sentido de
fazer alguma
diferença
em
sua
perspectiva
ou insight. O
receptor,
não o
emitente, decide se a
mensagem recebida
realmente constitui
informação,
isto é, se
ela verdadeiramente informa.
Eu
que o diga!
Aferições quantitativas de
gestão de
informação nas
organizações tendem a
incluir conectividade e
transações: quantas
contas de
e-mail
ou
usuários temos? Quantas
mensagens foram enviadas num
período?
Aferições qualitativas medem a
“informatividade” e a
utilidade: a
mensagem trouxe
um
novo insight?
Ela ajuda a
extrair
significado de uma
situação e contribui
para a
decisão
ou
solução de
um
problema?
Informação,
diferentemente de
dado, tem significado (como diz Peter
Drucker, relevância e propósito).
Ela
não
só “dá
forma” ao receptor, ela
também tem forma: está organizada
para alguma
finalidade.
Dados tornam-se
informação
quando o
seu
criador, o
receptor dos
sinais,
trabalha e lhes
acrescenta
significado.
Transformamos
dados
em
informação agregando-lhes
valor de diversas
maneiras, a
mais
comum delas sendo a contextualização.
No
início da
Televisão,
muitos diziam
que o
novo
meio de
comunicação elevaria o
nível do
discurso cultural e
político de uma nação. Sabemos
bem o
que na realidade tem acontecido, donde é
possível
concluir
que
dispor da
tecnologia
mais sofisticada
não implica necessariamente
em
obter
melhor informação. |