Completando esta breve jornada em que abordamos a transformação progressiva
de sinal a dado e então informação até conhecimento, atrevo-me
aqui a
dar o
passo
seguinte e
ponderar
um
tanto
sobre
sabedoria.
Há
cerca de 2.500
anos, Ésquilo (525 a.C.-455a.C., grego),
dramaturgo, poeta e soldado, dizia
que “sábio
não é
aquele
que conhece muitas
coisas,
mas o
que conhece
coisas úteis”.
Dito de uma forma mais poética, nas palavras de Marcel Proust (1871-1922,
francês, escritor e crítico literário, conhecido por sua obra "Em busca
do tempo perdido"), “a verdadeira viagem de descoberta não consiste
em sair à procura de novas paisagens, mas de possuir novos olhos”.
Vamos então dar
um
salto de 2.000
ou 2.400
anos
para
trás e
considerar
dois
outros
criadores,
um deles filósofo e
professor, nascido na Grécia, o
outro filósofo,
carpinteiro e
professor, nascido na Palestina,
ambos
mártires e
agentes de profundas transformações.
O
primeiro resumiu
seu
conhecimento na
frase: “Conhece-te a ti
mesmo”.
O
segundo, na
frase: “Amai-vos uns aos
outros
como
vos amei”.
Agora me permitam
compartilhar uma
experiência
pessoal,
mais uma, um
sonho
que tive uma
semana
antes de
meu 50º
aniversário.
Embora já estivesse conformado,
eu ainda sentia certa
tristeza
pela
morte,
em
Novembro de 1999, de
um
amigo
querido, queridíssimo. Num
domingo havíamos jantado
com
ele e a
esposa
em
minha
casa,
para comemorarmos o
aniversário de
minha então mulher.
Ambos passávamos
por mudanças importantes em nossas vidas e
contei a
ele
que
eu estava a
um
passo de
me
dedicar a
um
antigo
sonho,
que
era o de
vir a
ler e
escrever
mais dedicadamente e
me sentir escritor. As
dificuldades por que
ele passava eram
então
maiores do
que as
minhas,
mas
me lembro
que
antes |
de
se
despedir
ele
ainda disse, olhando-me nos olhos: “Fabião,
vá
seguir o
seu
sonho”. Na
terça, consumando
um
antigo
temor seu,
um
infarto o fulminou aos 58
anos.
Bem, em uma
madrugada de Março de 2000,
um
domingo, tive
este sonho:
O
sonho
de 12 de
Março,
domingo,
2000
Cidade
estranha,
(preciso)
pegar
ônibus
para
chegar
em
casa,
não
sei o
endereço,
vou (este
é
um
sonho
recorrente
há
anos).
Encontro
com
pessoas
que
vão
criar
uma
espécie
de “clube”
(ou associação), estou
em
um
salão.
Primeiro,
vejo a
moça
solitária
sentada
com
a
filha
pequena
(5
anos?)
no
colo,
várias
cadeiras
vazias ao
redor;
fico interessado
pela
moça,
mas
“não
posso”. Conversamos
sobre
o
encontro
que
vai
haver
dali a
pouco,
a
necessidade,
o
esforço,
fazer
o “clube”.
Ela
conclui
com
um
lamento:
“Infelizmente
não
é
coisa
pra
pobre...”.
Depois,
chegando
mais
gente,
recomeço
a
conversar,
observo a
minha
fala,
discurso,
que
vai
me
empolgando.
Enfim,
vejo-me
em
pé
falando a
todos,
mais
gente
chegando, a
fala
entusiasmada:
“Só
há duas
coisas
(mostro os
dedos,
mão
esquerda)
importantes
(na
vida):
a
primeira
é
olhar
para
si,
para
dentro,
para
encontrar
tudo
que
está
ali,
o
que
somos
(e revelá-lo); (agora
há
menos
pessoas)
a
segunda
são
as
relações
que
criamos
com
as
pessoas,
eu
com
você
(mão
esquerda,
meu
dedo
indo e vindo na
direção
de
cada
um),
eu
com
você,
eu
com
você
(a
moça,
o
velho,
a
mulher,
cada
um
momentaneamente
em
close),
...porque
as
pessoas
que
não
criam
relações
com
as outras... o
que
acontece?...
(dando uma
deixa)
“Criam
amigos
imaginários
para
conversar...”,
responde a
moça.
“Para
além
disso
(eu
continuo, ao
olhar
para
ela),
elas
relacionam-se
com...
(olhando os
outros,
pausa
para
resposta
que
não
vem) ...com
coisas
(enfatizo
agora,
gesticulando), as
pessoas
as animam!!”
Sinto
que
não
quero
tomar
a
palavra
dos
outros
(isto
me
aflige, quero
que
possam
falar,
que
falem!). No
meio
da
minha
fala
havia
já
bastante
gente,
quase
todas as
cadeiras
ocupadas,
agora
são
poucas,
nem
metade,
eu
preocupado
em
não
me
estender,
mas
continuo falando, quero
continuar
na
reunião
mas
olho
preocupado
o
relógio,
me
desculpo
por
ter
que
ir
a
outra
reunião
em
outra
sala,
e fico nesse
querer
ficar
e
querer
não
faltar
ao
outro
compromisso
e
acordo
cansado
pelo
esforço
de
falar
tanto
e
tão
veementemente...
Nos
dias
imediatos ao
sonho pensei
que
talvez
meu
amigo quisesse
falar
comigo
ou
através de
mim. Ao refletir fui
me lembrando de
princípios
que
cultivo há
muito
tempo,
valores
que a
minha
experiência
pessoal e
meu
conhecimento foram enraizando
em mim; e lembrei-me dos
dois filósofos: os
valores
fundamentais de
minha
vida
são
apenas
dois e
já foram
enunciados há
mais de dois mil
anos...
Um
sonho e
tanto!
Se
conhecimento é a foto, sabedoria é o filme.
No
dizer de Sandra Carey, escritora, “não devemos jamais confundir
conhecimento com sabedoria; um ajuda a ganhar a vida, o outro a construí-la”. |