Em
meados do século 19, os químicos já haviam notado que a mera ordenação dos
elementos segundo seus pesos atômicos era incapaz de revelar alguma lógica
geral, um sistema que se aplicasse a todos eles.
O
peso atômico (hoje massa atômica) não era a propriedade essencial a
caracterizar cada um dos elementos. Outros aspectos mais abrangentes
precisavam ser considerados e a distância já lançada entre a Química e a
Física dificultava uma estreita colaboração entre físicos e químicos.
John
Newlands (1837-1898, inglês), químico, havia, entretanto, observado em 1863
que a ordenação por pesos atômicos, então melhor padronizados, lhe sugeria
uma regularidade algo surpreendente: certas propriedades pareciam se repetir
a cada grupo sequencial de 8 elementos.
Nos
dois anos seguintes, ele criaria uma tabela com 11 grupos de elementos,
baseados em suas semelhanças químicas, em que qualquer um dos elementos
exibia propriedades análogas às daqueles situados 8 posições à frente ou
atrás. Para ele, havia certa semelhança com a escala musical, o que o levou
a propor o que chamou de “lei das oitavas”.
Porém, em 1866, ao apresentar sua ideia numa reunião da Sociedade Química,
em Londres, foi muito mal recebido e até mesmo ridicularizado. Um dos
presentes, George Foster, do University College de Londres, chegou a
provocar Newlands perguntando-lhe se havia considerado propor uma lista em
ordem alfabética, já que quaisquer arranjos apresentariam eventuais
coincidências.
Outras objeções, estas razoáveis, apontavam que a tabela não seria capaz de
acomodar qualquer novo elemento descoberto; além disto, a ideia de “oitavas”
funcionava bem para as duas primeiras seqüências, chegando até o cálcio
(Ca), mas não daí em diante. Como resultado do encontro, a Sociedade
recusou-se a publicar seu artigo (Odling era um dos contrários) e assim uma
observação consistente sobre uma possível periodicidade foi ignorada.
Um
aspecto importante neste caso é o fato de que, em sua tabela original, ao
organizar todos os 62 elementos então conhecidos, Newlands havia ousado,
deixando espaços abertos para elementos que aparentemente faltavam. A
versão de 1866, entretanto, os suprimira.
Newlands claramente havia dado um passo além de Chancourtois; contudo, ao
enfrentar o mundo acadêmico e científico, recuara.
No ano seguinte, Gustavus Hinrichs (1836-1923,
dinamarquês naturalizado estadunidense) propôs nova tabela que consistia num
sistema periódico em espiral, também com os elementos ordenados segundo a
massa atômica.
Ele já havia aventado esta ideia em 1855 e
agora em 1867 a publicava em seu livro, Programme der Atommechanik,
numa tabela em que considerava a |
massa atômica, o espectro e as similaridades químicas dos elementos.
Hinrichs ali tecia certas analogias entre a Astronomia e a Química ao propor
um princípio geral sobre a mecânica dos átomos, o que foi considerado por
seus pares nos EUA uma excêntrica e inaceitável confusão, mas sendo bem
aceito nos círculos europeus de então.
Não
obstante, suas pesquisas em Climatologia o levariam a criar o primeiro
Serviço Meteorológico americano.
Químico e pesquisador em múltiplas áreas, seus estudos em Mineralogia
(estruturas cristalinas) certamente estavam à frente de seu tempo e viriam a
ter relação importante com a futura descoberta da estrutura do átomo: sua
hipótese sustentava a suposição de que a matéria primária, a que chamou de "pantogen",
com seus átomos denominados "panatoms", explicaria as relações numéricas dos
pesos atômicos e forneceria uma classificação simples dos elementos.
De
certa forma, Hinrichs dava pistas do que viria a ser conhecido, em sua
evolução, e muito mais tarde, como número atômico.
Seguindo a mesma direção geral, o químico
Julius Lothar Meyer (1830-1895, alemão), então na Universidade de Breslau,
publicara em 1864 uma tabela com 44 elementos dispostos pelo conceito de
valência (elaborado por Couper e Kekulé; v. artigo de Mar 2016), em que
elementos com propriedades similares às vezes tinham a mesma valência.
Ao revisar seu livro de química, em 1868,
Meyer, que participara do Congresso de Karlsruhe de 1860 ao lado de Odling,
Dumas, Mendeleev e outros (v. artigos de Jun, Jul e Out 2016), criaria uma nova tabela, agora com 56 elementos, baseada na
periodicidade de propriedades como volume molar, embora nem todos os
elementos nela se encaixassem bem.
Ele havia estudado a relação entre o volume
atômico dos elementos e suas massas atômicas, tendo elaborado um gráfico com
o volume em função da massa. Por meio da curva obtida, agrupara os
elementos em famílias, obtendo assim a uma classificação periódica dos
elementos que tinham propriedades semelhantes.
Concluída em 1869, a tabela, porém, não foi
impressa até 1870, por conta do atraso do editor.
Enquanto isso, como vimos, Dmitriy Mendeleev
debruçava-se intensamente sobre o desafio que o havia detido na composição
do segundo volume de sua obra
Os Princípios
da Química
(v.
artigo de Dez 2016): como organizar de modo científico todos os elementos
conhecidos? Qual a lógica oculta em sua natureza? Haveria ainda muitos
elementos desconhecidos?
Sem que soubessem um do outro, Lothar Meyer
deixava-se impressionar pela periodicidade das propriedades físicas,
enquanto Mendeleev deitava sua atenção nas propriedades químicas dos
elementos.
Algo estava para acontecer. |