Em
1869 Mendeleev dividia
seu
tempo
entre
as
atividades
na
Universidade
de
São
Petersburgo,
suas
pesquisas,
a
família,
consultorias, as
visitas
à
propriedade
rural
em
Tver e à
Sociedade
Economia
Livre
da
região.
Havia
ainda
o desafiador
trabalho
de
preparação
do
segundo
volume
do
novo
livro
sobre
química
inorgânica,
interrompido
por
não
saber
ainda
como
organizar
todos
os
elementos
conhecidos
sob
um
critério
lógico
satisfatório;
e
isto
o angustiava.
Na
verdade,
desde
o
Congresso
de 1860
ele,
como
tantos
outros,
procurava alguma regularidade no
arranjo
dos
elementos;
e,
como
vimos,
nenhum
pesquisador,
físico
ou
químico,
havia
até
então
alcançado uma
proposição
coerente
e
completa.
Mais
do
que
nas
propriedades
físicas,
Mendeleev concentrava-se nas
propriedades
químicas:
além
de
considerar
o
peso
atômico (massa),
avaliava
semelhanças
e
diferenças
entre
os
elementos,
suas
capacidades
de
combinação
para
a
formação
de
compostos,
suas
valências,
suas
reatividades. Havia notado a
validade
do
conceito
de
família
de
elementos
e a
extensão
da
antiga
ideia de
tríades,
agora
em
duas e,
talvez,
em
três
dimensões.
Mas
avaliar
simultaneamente os 63
elementos
conhecidos
e
evitar
qualquer
ordenamento
arbitrário
era
tarefa
gigantesca;
e extenuante.
Reconhecendo
padrões
nas
propriedades
de
três
famílias
de
elementos
leves,
ao organizá-los
segundo
seus
pesos
atômicos, notou
um
tipo
de periodicidade:
a) Li=7; Be=9,4;
B=11; C=12; N=14; O=16; F=19
b) Na=23; Mg=24;
Al=27,4;
Si=28;
P=31; S=32; Cl=35,5
c) K=39; Ca=40;
Ti=50; V=51
Em
suas
palavras,
"Li, Na, K, Ag referem-se uns aos
outros
como
C,
Si,
Ti, Sn
ou
como
N, P, V, Sb".
Esse
padrão
talvez
pudesse
ser
aplicado na
organização
dos
elementos
mais
pesados.
Analisando
demoradamente as
valências
de
alguns
elementos
na
síntese
de
compostos,
observara a
notável
presença
do
número
oito,
uma
espécie
de
remissão
à periodicidade
por
oitavas
de Newlands. Intuía
estar
num
caminho
promissor,
mas
nada
emergia
claramente
desse emaranhado.
Com
os
dois
primeiros
capítulos
do
segundo
volume
de Os
Princípios
da
Química
prontos,
no
começo
de
fevereiro
de 1869 Mendeleev se debatia testando inúmeros
arranjos
para
os
elementos.
No
dia
14,
cansado,
pensava
em
superar
o
impasse
nesse
final
de
semana
para
concluir
o
livro,
pois
na
segunda-feira
precisaria
tomar
o
trem
para
um
compromisso
com
a
Sociedade
em
Tver.
Não
havia
tempo
a
perder.
Uma de
suas
distrações
favoritas,
especialmente
ao
viajar
de
trem,
era
o
uso
de
um
baralho
para
jogar
paciência.
Ocorreu-lhe
então
a ideia de
criar
uma
série
de
fichas,
como
cartas,
cada
uma delas
com
os
dados
mais
significativos
de
um
elemento:
símbolo,
peso
atômico,
propriedades
químicas.
Chegou a dar-lhe o
nome
de “paciência
química”.
Durante
dias
procurou
dispor
suas
fichas
de inúmeras
maneiras,
esperando dali
extrair
algum
significado
profundo.
Ordenou-as
por
ordem
crescente
de
pesos
atômicos, agrupando-as
segundo
propriedades
semelhantes,
mesmo
estando
ciente
de
que
lidava
com
uma
outra
dificuldade
intrínseca:
certamente
haveria |
ainda
vários
elementos
desconhecidos,
a serem
descobertos,
portanto
seu
“baralho
químico”
era
um
conjunto
incompleto.
Segundo
A.A. Inostrantzev,
amigo
que
o visitou, Mendeleev trabalhou
sem
descanso
durante
os
três
dias
em
que
não
dormiu. Na
segunda-feira,
dia
17,
pela
manhã,
nenhuma
solução
havia emergido; e
sua
reunião
em
Tver seria à
tarde.
Mendeleev pressentia
estar
perto
de uma
resposta
que,
contudo,
não
se revelava.
Por
duas
vezes,
uma
pela
manhã,
outra
à
tarde,
dispensou o
cocheiro
que
o esperava
com
o
trenó
que
o levaria à
estação
naquele
dia
gelado.
Percebeu
que
poderia
abordar
uma
semelhança
com
o
baralho
costumeiro:
alinhar
as
cartas
segundo
o
naipe
e
em
ordem
numérica, numa
analogia
que
envolvia
propriedades
químicas
similares
e
pesos
atômicos (massas)
crescentes.
Tão
absorvido estava
pela
sensação
de iminência,
que
mais
uma
noite
chegou e a
fadiga
o venceu.
Sem
dar-se
conta,
adormeceu
ali
mesmo
na
mesa;
e sonhou.
Em
suas
próprias
palavras:
“Vi num
sonho
uma
tabela
em
que
todos
os
elementos
se encaixavam
como
requerido. Ao
despertar,
escrevi-a
imediatamente
numa
folha
de
papel.”
Em
seu
inconsciente,
havia compreendido
que
os
elementos,
listados
por
ordem
de
pesos
atômicos, exibiam
suas
propriedades
numa
repetição
a
intervalos
periódicos.
Duas
semanas
depois,
publicava
seu
célebre
artigo
Um
Sistema
Sugerido dos
Elementos.
Estava,
entretanto,
tão
profundamente
envolvido nas
atividades
da
Sociedade
Econômica
que,
mais
tarde,
ainda
em
1869, no
dia
do
primeiro
anúncio
de
sua
Tabela
Periódica
para
a
Sociedade
Química
Russa,
por
estar
em
viagem
de
inspeção
a
cervejarias
e
queijarias,
pediu ao
amigo
N. Menshutkin
para
substituí-lo na
apresentação.
Não
só
não vemos as
coisas
como
elas
são, vendo-as na
verdade
como somos: vemos
aquilo
que estamos
preparados
para
ver. |