Uma Síntese Necessária (1)

Artigo 40, publicado no Correio da Serra, Santo Antonio do Pinhal, SP, edição de Set 2009

© 2005-2018 Fabio Ortiz Jr

 

Agora, ao final desta nossa jornada de reflexões, uma síntese se faz necessária.

Quando aqui me dispus a tratar os urgentes temas da educação ambiental e do desenvolvimento sustentável, observados os limites apontados no início, senti-me compelido a evitar fazê-lo dentro das estreitas fronteiras da abordagem que domina corações e mentes há bem mais de três séculos.  Ou seja, recusei-me a fixar o tema e a procurar defini-lo como uma área estanque, um bem em si mesmo.

Assim, ao tratar de “educação ambiental” não procurei apenas esmiuçar um “novo campo”; busquei antes, para aqui refletirmos, colocar algumas luzes sobre o conceito de ambiente e sobre o processo educativo, investigando as possíveis relações entre estes aspectos da realidade.  Da mesma forma, ao tratar de “desenvolvimento sustentável”, esforcei-me por desfazer equívocos quanto aos reais significados de desenvolvimento e de sustentabilidade evidenciando as relações envolvidas.

O grande desafio foi refletir sobre as dificuldades em mobilizar pessoas para as imensas e urgentes transformações que se fazem necessárias.

Há um antigo provérbio chinês que nos ensina: "Diga-me e esquecerei, mostre-me e poderia recordar; envolva-me e compreenderei."

O leitor atento poderá talvez lembrar-se de que aqui encadeamos temas como Tempo, Espaço, Ambiente, Ecologia, Educação, Ambientalismo, Desenvolvimento, Sustentabilidade, Cidadania, Democracia, Utopia, não com a intenção de definí-los, delimitá-los, esgotá-los, mas sim buscando antes estabelecer relações possíveis entre eles e ainda com o que lhes há de comum, como as clássicas indagações (tão esquecidas hoje) sobre “quem somos, de onde viemos, para onde vamos, qual o significado de nossas vidas”.

Desta maneira, por meio destes textos reflexivos, talvez tenha sido possível provocar o leitor e, melhor ainda, mobilizá-lo, envolvendo-o pela compreensão de o quanto cada um destes aspectos faz parte de seu cotidiano, faz parte de sua vida e a dirige e condiciona, como indivíduo e como coletividade.

Carl Gustav Jung (1875-1961, suíço) psicanalista, criador do conceito de inconsciente coletivo, nos estimula a agir: “Aquilo que na vida tem sentido, mesmo sendo qualquer coisa de mínimo, prima sobre algo de grande, porém, isento de sentido.”

Recordando, quando tratamos brevemente de Tempo, vimos a percepção do tempo como percepção da realidade, o tempo psicológico que dirige nosso conhecimento, que estrutura nosso sistema de crenças, que governa nossas decisões e ações.

Ao tratarmos de Espaço, abordamos a desobstrução e extensão dos nossos sentidos na percepção do entorno e, como consequência, do Outro, encontramos a alteridade.

Ao refletirmos sobre Ambiente, defrontamo-nos com a responsabilidade na ocupação dos espaços vitais, a

cooperação baseada na interdependência, na impermanência e no revezamento.

Ao meditarmos sobre a ciência a que chamamos de Ecologia, mergulhamos na abordagem sistêmica, nas idéias de interação, totalidade, organização e complexidade, na compreensão do lugar onde vivem organismos, populações, comunidades, ecossistemas e biosfera.

Quando isto nos levou a refletir sobre Educação,  o fizemos como uma jornada em direção ao conhecimento para descolamento à barbárie, como o preparo para a vida e instrumento para sua compreensão e preservação, um papel central na integração dos saberes a serviço da vida.

Ao darmos um passo além, compreendemos em Ambientalismo um modo holístico, integrado e integrador, de ver e de praticar, entendemos a visão ambientalista como transformadora do modelo educacional e de nossas vidas.

Avançando, e no sentido de desmistificar o que pode ser compreendido por Desenvolvimento, abordamos a rede de interações que pressupõem o cuidado com a manutenção de relacionamentos mutuamente benéficos, uma estratégia de perpetuação e evolução, a ação presente para a preservação futura.

Quando isto por sua vez nos levou a refletir sobre Sustentabilidade, outro tema a desvestir de mistério, tratamos do equilíbrio dinâmico nas trocas, vimos ecologia e economia como aspectos do mesmo problema, a superação da “infância da humanidade”.

Prosseguindo na jornada, ao refletirmos sobre Cidadania, vimos que “é preciso superarmos as ilusões para que alcancemos uma condição que não precise de ilusões”, reconhecemos amor, trabalho e conhecimento como fundamentos da vida, o exercício da identidade e dos laços sociais.

Como consequência, ao mergulharmos em Democracia, dando-nos conta sem assombro daquela que é possível nas condições de hoje, encontramos o exercício e a expressão da cidadania, a liberdade, a responsabilidade, a alteridade, “para que cada homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado”.

Quando enfim nos demos ao exercício imaginativo e crítico da Utopia, mais do que “em lugar algum” ou “o bom retiro”, “imagem de um desejo” ou “promessa de felicidade”, vimos que ele é reflexo das “condições de vida e das aspirações individuais e sociais em diferentes épocas”, é “projeto alternativo capaz de indicar potencialidades realizáveis e concretas”, não apenas possível, mas necessário, “de cada um segundo suas capacidades, a cada um segundo suas necessidades”.

Daí tiramos como Conclusões possíveis, caminho e meios para as transformações, ferramentas como o olhar para perceber, o compreender para conhecer, o agir para responder, o transcender para superar, o imaginar para a liberdade de ir a qualquer lugar.

(continua)