|
A Percepção do Tempo (2) Artigo 7, publicado no Correio da Serra, Santo Antonio do Pinhal, SP, edição de Abr 2006 © 2005-2018 Fabio Ortiz Jr |
|||
Capítulo Um: Tempo, ainda é preciso falar sobre ele. No artigo anterior refletimos sobre o significado (ou significados) de tempo, fazendo observações a partir de diversos pontos de vista. Assim, olhamos para nós, a Vida e a Terra sob as perspectivas do que chamei de: - tempo humano (nós e os outros) em anos e décadas, - tempo histórico (nós, outros e outros nós) em séculos, - tempo antropológico (nossa espécie) em milênios, - tempo paleontológico (todas as espécies) em milhões de anos e - tempo geológico (a Vida e a Terra) em bilhões de anos. O próximo salto na escala do tempo nos leva a observar nosso planetinha pelo que chamo de tempo cósmico. Nele percebemos que a Terra não é o centro do Universo, somos nós que giramos em torno do Sol e não o contrário; nosso sol é apenas mais uma estrela mergulhada numa imensidão de estrelas que compõem uma galáxia e que nossa galáxia, a Via Láctea, é apenas mais uma entre as incontáveis espalhadas pelo universo. Olhamo-nos em meio a todo este espaço-tempo mediante espelhos chamados Astronomia (“astru“, em Latim, é “objeto celeste”) e Cosmologia (“kósmos“, em Grego é “universo”). Este tempo ainda é medido em bilhões de anos (B.a.) e estimamos que este universo tenha cerca de 13,5 B.a., o limite do universo conhecido. O que há além, se houver, ainda não conseguimos ver. Agora de volta aqui a nosso grão de poeira, nossa Terra, nossa casa (que viagem!), damo-nos conta de que ainda podemos falar de um outro tempo, a que chamarei de tempo psicológico ("psyché", em Grego é "alma", "intelecto"). Tratamos até aqui de um universo exterior; cuidemos então de nosso universo interior. Quero com isto falar da maneira como nos apercebemos do tempo. Observem: a cada final de ano uma das frases mais ouvidas é “Nossa! Parece que este ano passou mais rápido ainda!” ou “Parece que o tempo anda cada vez mais rápido!”. Será verdade? O fato é que não sabemos e ainda não dispomos de meios para saber. Freqüentemente nos perdemos em |
termos de tempo, pensamos que certo fato aconteceu numa data ou época até que, surpresos, descobrimos que foi em outra. Certa vez descobri, chocado, que fatos a que me referia como de há 6 meses ou pouco mais, na verdade eram de há muito mais, quase 4 anos! Conversei sobre isso com dois psicanalistas amigos, que me reconfortaram com o conhecimento de que isto é na verdade comum a muitas pessoas, mais ainda quando atravessamos fases difíceis ou estamos com a alma depressiva. Deixemos de lado os relógios e os calendários. Eles são apenas abstrações e arbitrariedades para que tenhamos pelo menos alguma referência (há tantos calendários pela história do mundo: o romano, o judaico, o chinês, o asteca...). Nenhum de nós, nem mesmo os melhores cientistas, sabemos afinal o que é isso a que nos acostumamos chamar de Tempo. Por enquanto, apenas imaginamos. Sabemos que esta espécie de “filme” se passa numa aparente direção: não fechamos a porta para então sair por ela, não andamos para trás. Aparentemente tudo obedece uma certa ordem, pelo menos neste canto do Universo. Einstein demonstrou de uma maneira até simples que a percepção do tempo é uma questão de ponto de vista do observador. Permito-me acrescentar que o importante em nosso cotidiano é sabermos que a maneira como cada um de nós se apercebe do tempo é o que governa nossas vidas, pois condiciona a maneira como percebemos a realidade e com ela interagimos. Isto é o tempo psicológico. Ele estrutura nosso sistema de crenças, dirige nosso conhecimento, governa nossas decisões e ações, todas elas. Podemos olhar a nós mesmos e a este tempo com a ajuda dos espelhos a que chamamos de Psicanálise, Psicologia ou Filosofia, o que requer sempre muita reflexão. Relacionamo-nos e agimos sempre segundo nossa percepção e nosso sistema de crenças. Nós, os outros, o mundo e a vida na Terra, o futuro, estamos hoje a depender bastante disso. Pessoalmente, gostaria que a Vida ainda me permitisse um longo tempo pela frente, para que eu ainda mais a conhecesse e me encantasse. Mas sei que meu tempo está acabando, embora esteja claro que, sendo geólogo, isto ainda poderá levar um bom tempo... Nos próximos capítulos veremos o que o Tempo tem a ver com ecologia, o que esta tem a ver com educação e visão ambientalista e o que isto tem a ver com desenvolvimento e sustentabilidade. E, afinal, o que isto tem a ver conosco. |
|