A Percepção do Tempo (2)

Artigo 7, publicado no Correio da Serra, Santo Antonio do Pinhal, SP, edição de Abr 2006

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Capítulo Um:  Tempo, ainda é preciso falar sobre ele.

No artigo anterior refletimos sobre o significado (ou significados) de tempo, fazendo observações a partir de diversos pontos de vista.  Assim, olhamos para nós, a Vida e a Terra sob as perspectivas do que chamei de:

- tempo humano (nós e os outros) em anos e décadas,

- tempo histórico (nós, outros e outros nós) em séculos,

- tempo antropológico (nossa espécie) em milênios,

- tempo paleontológico (todas as espécies) em milhões de anos e

- tempo geológico (a Vida e a Terra) em bilhões de anos.

O próximo salto na escala do tempo nos leva a observar nosso planetinha pelo que chamo de tempo cósmico.

Nele percebemos que a Terra não é o centro do Universo, somos nós que giramos em torno do Sol e não o contrário; nosso sol é apenas mais uma estrela mergulhada numa imensidão de estrelas que compõem uma galáxia e que nossa galáxia, a Via Láctea, é apenas mais uma entre as incontáveis espalhadas pelo universo.  Olhamo-nos em meio a todo este espaço-tempo mediante espelhos chamados Astronomia (“astru“, em Latim, é “objeto celeste”) e Cosmologia (“kósmos“, em Grego é “universo”).

Este tempo ainda é medido em bilhões de anos (B.a.) e estimamos que este universo tenha cerca de 13,5 B.a., o limite do universo conhecido.  O que há além, se houver, ainda não conseguimos ver.

Agora de volta aqui a nosso grão de poeira, nossa Terra, nossa casa (que viagem!), damo-nos conta de que ainda podemos falar de um outro tempo, a que chamarei de tempo psicológico ("psyché", em Grego é "alma", "intelecto").

Tratamos até aqui de um universo exterior; cuidemos então de nosso universo interior.  Quero com isto falar da maneira como nos apercebemos do tempo.

Observem:  a cada final de ano uma das frases mais ouvidas é “Nossa!  Parece que este ano passou mais rápido ainda!” ou “Parece que o tempo anda cada vez mais rápido!”.

Será verdade?

O fato é que não sabemos e ainda não dispomos de meios para saber.  Freqüentemente nos perdemos em

termos de tempo, pensamos que certo fato aconteceu numa data ou época até que, surpresos, descobrimos que foi em outra.

Certa vez descobri, chocado, que fatos a que me referia como de há 6 meses ou pouco mais, na verdade eram de há muito mais, quase 4 anos!  Conversei sobre isso com dois psicanalistas amigos, que me reconfortaram com o conhecimento de que isto é na verdade comum a muitas pessoas, mais ainda quando atravessamos fases difíceis ou estamos com a alma depressiva.

Deixemos de lado os relógios e os calendários.  Eles são apenas abstrações e arbitrariedades para que tenhamos pelo menos alguma referência (há tantos calendários pela história do mundo:  o romano, o judaico, o chinês, o asteca...).  Nenhum de nós, nem mesmo os melhores cientistas, sabemos afinal o que é isso a que nos acostumamos chamar de Tempo.

Por enquanto, apenas imaginamos.  Sabemos que esta espécie de “filme” se passa numa aparente direção:  não fechamos a porta para então sair por ela, não andamos para trás.  Aparentemente tudo obedece uma certa ordem, pelo menos neste canto do Universo.

Einstein demonstrou de uma maneira até simples que a percepção do tempo é uma questão de ponto de vista do observador.  Permito-me acrescentar que o importante em nosso cotidiano é sabermos que a maneira como cada um de nós se apercebe do tempo é o que governa nossas vidas, pois condiciona a maneira como percebemos a realidade e com ela interagimos.

Isto é o tempo psicológico.  Ele estrutura nosso sistema de crenças, dirige nosso conhecimento, governa nossas decisões e ações, todas elas.  Podemos olhar a nós mesmos e a este tempo com a ajuda dos espelhos a que chamamos de Psicanálise, Psicologia ou Filosofia, o que requer sempre muita reflexão.

Relacionamo-nos e agimos sempre segundo nossa percepção e nosso sistema de crenças.  Nós, os outros, o mundo e a vida na Terra, o futuro, estamos hoje a depender bastante disso.

Pessoalmente, gostaria que a Vida ainda me permitisse um longo tempo pela frente, para que eu ainda mais a conhecesse e me encantasse.  Mas sei que meu tempo está acabando, embora esteja claro que, sendo geólogo, isto ainda poderá levar um bom tempo...

Nos próximos capítulos veremos o que o Tempo tem a ver com ecologia, o que esta tem a ver com educação e visão ambientalista e o que isto tem a ver com desenvolvimento e sustentabilidade.  E, afinal, o que isto tem a ver conosco.